"A desgraça da UFOlogia"
Ademar José Gevaerd x Philippe Piet van Putten
Investigando uma antiga e danosa rusga
Texto de 2018 - ATUALIZADO em 13 de outubro de 2023.
Faz algum tempo, interessei-me pela chamada UFOlogia, o estudo técnico e científico do fenômeno UFO (do inglês "Unidentified Flying Object") ou OVNI ("Objeto Voador Não-identificado") e comecei a buscar referências impressas e eletrônicas sobre o tema. Dois nomes sempre surgiram nas minhas pesquisas como elementos importantes da UFOIogia brasileira: Philippe Piet van Putten (1959- ) e Ademar José Gevaerd (1962-2022). Naturalmente acabei conhecendo um pouco do trabalho de cada um e ouvi de terceiros críticas e elogios sobre ambos. O que me causou surpresa é que os dois foram amigos e parceiros em algumas iniciativas e depois nem mais conversavam.
Estranhamente, não achei nenhuma reclamação pública do pesquisador, palestrante e artista multimeios Philippe ("Mahatma") em relação ao também pesquisador e palestrante Gevaerd, editor da revista UFO (Editora Evolução Ltda), mas achei muitas publicações injuriosas e ofensivas deste último para com o primeiro, inclusive nas páginas do referido periódico. A pesada oposição parece ter ganhado virulência após o lançamento do maravilhoso livro "UFO - Enciclopédia dos Fenômenos Aeroespaciais Anômalos" (Makron Books - São Paulo, 2000), que Philippe escreveu e que contou com elogios até do internacionalmente conhecido astrônomo brasileiro Dr. Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (1935-2014). A obra foi prefaciada pelo Prof. Flávio Augusto Pereira (1926-2014), reconhecido pioneiro da UFOlogia brasileira. Pelo visto, as agressões aumentaram porque o livro não menciona em nenhum verbete das suas 222 páginas o Gevaerd, seus grupos de pesquisas (OPETOVNI, CPDV e o CBPDV) e a revista.
Convenhamos... O silêncio do Philippe diante das acusações severas do ex-amigo não é comum! Por quê não reagiu? Por quê não publicou uma defesa com a sua versão dos fatos?! O silêncio é uma forma de assumir culpa ou de ignorar o que não lhe soa relevante? O fato de ser científico-espiritualista, sensitivo e pacifista, teria inspirado Philippe a manter-se quieto? Não inserir o trabalho do Gevaerd no livro foi uma reação às ásperas palavras que leu e ouviu dele?! Eu precisava descobrir! E foi o que fiz.
Morando em Belo Horizonte, em Minas Gerais, ousei procurar por Philippe, que vive na cidade. Meu contato visava, acima de tudo, conhecer suas orientações existenciais e a terapia psicobioenergética, uma vez que passava por uma séria crise de saúde. Fui acolhida com total atenção e fiquei positivamente impressionada. Aos poucos, em novos encontros, pude desbravar, em primeira mão, documentos que evidenciaram as verdades, mentiras, injustiças e exageros sobre as causas do distanciamento dos dois pesquisadores.
Este pequeno espaço pretende solucionar o mistério por trás da divergência que separou dois amigos, inteligentes e combativos, e que reflete uma conjuntura muito comum, mundo afora, de atritos, inimizades, desunião, mistificações, politicagens, campanhas de desinformação e sensacionalismo que muitos qualificam como "a desgraça da UFOlogia".
Sara Braga
Philippe envolveu-se com a UFOlogia muito cedo. Ter sido instruído em inglês na infância, ajudou muito para que já na década de 70 estivesse associado às mais importantes organizações UFOlógicas do mundo (Aerial Phenomena Research Organization - APRO; Center for UFO Studies - CUFOS; Mutual UFO Network - MUFON; National Investigations Committee on Aerial Phenomena - NICAP) e também à Ancient Astronaut Society (AAS). Era uma promissora parceria.
O primeiro contato de Ademar José Gevaerd com Philippe foi através de uma carta (em arquivo) que enviou para o "Prof. Peter Conway" na condição de "Presidente Geral" da Organização de Pesquisas e Estudos Teóricos sobre Objetos Voadores Não-identificados (OPETOVNI) de Maringá, no Paraná, datada de 7 de agosto de 1980. Na época, Philippe residia em Santos, SP, e ensaiava a perspectiva de estabelecer no Brasil uma versão do National Investigations Committee on Aerial Phenomena (NICAP), criado nos EUA em 1956, e ao qual era associado.
Philippe atuava como artista e usava o pseudônimo Peter Conway, que deu nome a sua primeira empresa, a Peter Conway Productions, firmada em 1978. O empreendimento não deu certo e o nome artístico foi abandonado, mas quando planejou o seu Comitê Nacional de Investigação de Fenômenos Aéreos (CONINFA) ainda usava o nome fantasia. O CONINFA começou bem, com um Curso de Introdução à UFOlogia no respeitado Clube de Aeronáutica, em abril de 1979, no Rio de Janeiro, que contou com a presença de oficiais das três armas e da veterana pesquisadora poliglota teuto-brasileira Irene Mazloum Granchi (1913-2010). A professora Irene (foto abaixo) aproveitou para divulgar sua revista OVNI Documento, lançada em 1978. Foi a primeira revista especializada em UFOlogia do Brasil.
Em pouco tempo, Philippe percebeu que não existiam pessoas suficientes no país para consolidar uma organização naqueles moldes e engavetou o projeto do CONINFA.
A caluniosa "dupla identidade"
Entristece descobrir que as muitas rivalidades infantis que encontramos nos meios UFOlógicos não raro lançam aos quatro ventos maldades, calunias e injúrias cheias de raiva, que só contribuem para a desgraça da UFOlogia como um todo. Acontecem brigas assim em vários países e não raro envolvendo celebridades do setor! Agora está bem claro que a difamação a que foi submetido Philippe é uma obra de arrogância insensata, carregada de inveja e nítida injustiça. Caberia uma ação judicial mas, como veremos adiante, Philippe não aceitaria produzí-la. Causa estranheza que vários ditos "pesquisadores" passaram a reproduzir as injúrias sem NENHUMA pesquisa, mostrando que, de fato, poucos sabem fazer "logia" (estudo) de forma imparcial e objetiva, vendendo-se fácil e fanaticamente por um espaço promocional em qualquer periódico sensacionalista nas bancas de jornais!!
Gevaerd soube que Philippe é filho adotivo de um casal de Esperantistas. O eletrotécnico holandês Ruilof van Putten (1915-1986) e a jornalista e Auditora Fiscal do Tesouro Nacional Nelly (de Souza Netto) van Putten (1914-1998), amazonense, adotaram o recém-nascido Peter Ferreira e imediatamente o registraram e batizaram como Philippe Piet van Putten. Na tentativa de humilhar e desmoralizar o velho amigo, disseminou pelas redes sociais que Philippe usava "identidade falsa", mencionando ainda o pseudônimo artístico Peter Conway, como evidência disso! É importante lembrar que o "professor de química" fez o primeiro contato por carta com o "Peter Conway" em 1980 e DEPOIS disso chegou a nomear "Philippe Piet van Putten" (que sempre soube ser a mesma pessoa) como seu representante e colaborador assíduo, cobrindo-o com elogios! Sendo assim, acusá-lo de "dupla identidade" é uma imerecida e planejada crueldade.
"O mar secou a minha volta!"
É sabido que Philippe teve uma infância "sui gêneris". Sua mãe relembrava, com desgosto, que o menino, aos 3 anos de idade, dizia que queria "ser padre" quando fosse adulto, pois assim esperava poder "conversar com Deus". Descobrir Deus era a coisa mais importante para o garoto.
Aos 6 anos, lendo os quadrinhos de Mandrake, o Mágico, Philippe encantou-se com as possibilidades de usar poderes mentais para conhecer melhor os mundos visível e invisível e, quem sabe, achar caminhos para Deus. Nasceu no garoto uma imensa curiosidade por hipnose, controle mental, religiões e artes mágicas. Pedia para que a mãe o levasse aos espetáculos de ilusionismo e quase sempre sentava-se na primeira fila, para poder ver tudo bem de perto. Aos 7 anos ganhou seus primeiros equipamentos mágicos. Na mesma época, vivenciou assustadoras experiências de projeção da consciência. Sentia-se flutuando para fora de seu corpo adormecido e as vezes sonhava com discos voadores. Impressionado, porém insaciavelmente curioso, descobriu-se sensitivo e começou a estudar tudo que o ajudasse a compreender sua dinâmica psicoespiritual.
Aos 14 anos, Philippe, então associado à ÍRIS - Sociedade Cultural e Científica, do Rio de Janeiro, coordenava pequenos grupos de experiências psicoespirituais em Santos, SP. Testavam telepatia, clarividência, visão remota etc. Aos 16, proferia palestras semanais sob o grupo espiritualista Grande Fraternidade Branca Universal, num auditório cedido pelo Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de Santos. Médiuns, sensitivos, contatados, profetas etc., até de outros países, aproximavam-se dele com grande admiração e uma certa idolatria, especialmente porque suas palestras eram sempre feitas de improviso e abarcavam uma diversidade de "assuntos avançados demais para um adolescente". A imprensa sensacionalista chegou a explorá-lo como "o novo messias"!
Na rara imagem abaixo, uma das primeiras palestras no citado auditório, em 1975, que teve como tema central "as bases biológicas e físico-químicas da fraternidade humana". Lá floresceu o que Philippe chamou de científico-espiritualismo ("uma escola de autoconhecimento, reeducação existencial e aprimoramento psicoespiritual sob mentalidade científica.") e os respectivos processos de metaconscientização ("a revoluçao da consciência"). Assim foi semeado um movimento científico-espiritualista de metaconscientização.
Em 1976, Philippe já estava envolvido com a UFOlogia e a parapsicologia, mantendo um grande intercâmbio com pesquisadores do Brasil e do Exterior. Tendo ouvido falar que os chamados UFO/OVNI pareciam "controlados por inteligências evoluídas e capazes de comunicações parapsicológicas", resolveu produzir uma nova modalidade de pesquisa de campo para testar contatos. Junto com amigos e frequentadores de suas reuniões, lançou informalmernte o Projeto Contact visando testar a possibilidade de atrair as tais "inteligências" através de emissões psicobioenergéticas em uníssono. Os resultados foram muito além do esperado. Muito mesmo! O grupo teve avistamentos espetaculares, coincidentes com as suas tentativas de comunicação. Chamou a isso de "contatologia" e acabou sendo imitado por numerosos outros pesquisadores de campo, com sucesso! Mais tarde soube que experiências semelhantes foram feitas com sucesso pelo general do Exército brasileiro Prof. Alfredo Moacyr de Mendonça Uchôa (1906-1996), com quem faria uma forte amizade.
Às altas horas da noite, os participantes sentavam-se diante da Ilha Urubuquiçaba, entre Santos e São Vicente, e tentavam estabelecer contato mental. Os grupos presenciaram sobrevoos de grandes aeroformas elipsóides luminosas, branco-prateadas e silenciosas, que pareciam mover-se respondendo aos seus pedidos. Tiveram várias experiências desse tipo! Alguns desses momentos foram decisivos para o estabelecimento de uma "convicção inquestionável e inabalável sobre a existência de controladores mentalmente evoluídos por trás de alguns UFO/OVNI". Ao saber disso, num dos congressos de UFOlogia em Curitiba, Gevaerd disse que jamais tinha conhecido alguem que teve tantos avistamentos (nem os do famoso general Uchôa?!). Achava absurdo pois morava perto do pantanal matogrossense e... "Nunca vi nem uma luzinha no céu!" (palavas dele).
Ao fim de uma das experiências, Philippe levantou-se e caminhou em direção à ilha, olhando para o alto, apreciando o céu estrelado. Parou sobre a areia molhada por alguns segundos e teve sua atenção chamada pelo amigo José Luiz, que, rindo, gritava para os outros, apontando para o solo. Philippe então percebeu que estava de pé sobre um pequeno círculo de areia molhada e que as marolas (minúsculas ondas do vai e vem do mar) davam a volta por ele, deixando-o sobre um pequeno montículo de areia, perfeitamente circular. Não molhavam os seus sapatos. Foi uma coincidência muito legal, mas que JAMAIS foi alardeada como algum tipo de "fenômeno" sobrenatural! Muitos viram e ouviram esse relato, mas o Gevaerd, em um de seus costumeiros exageros depreciativos, afirma que Philippe lhe disse: "o mar secou a minha volta!!" Isso, com certeza, nunca aconteceu! Não é o tipo de coisa que o Philippe diria.