Philippe é um homem sonhador, idealista e amoroso. Trata seus amigos, alunos e clientes com muita cordialidade, entre sorrisos e abraços. É uma pessoa afetuosa e muito educada (do tipo que abre portas e puxa as cadeiras para as amigas sentarem-se). De modo que a descrição grotesca disseminada pelo pretencioso "tio da UFOlogia" não descreve nada daquilo que as pessoas percebem quando convivem com o científico-espiritualista.  O pior de tudo isso é que são conhecidos outros tantos desafetos do Gevaerd que reclamam de sua intolerância e do seu temperamento agressivo. 

Vamos descobrir o que ficou de tudo isso na mente e no coração do Philippe nesta breve entrevista feita em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 2018.

<> Philippe... Faz tempo que não conversa com o seu ex-amigo e colega Ademar José Gevaerd?

Não. Há poucos meses intrometeu-se num diálogo online que estava tendo com alguns dos seus leitores no Facebook. Estava com o mesmo tom grosseiro e arrogante de sempre. Falava como se fosse uma autoridade policial e senhor da verdade. O interessante é que ele admitiu, pela primeira vez, que maquinou a minha "expulsão" da UFOlogia brasileira. Fiz uma impressão do diálogo. Chegou a ser engraçado, pois fui eu que deixei de participar do que ele chama de "UFOlogia brasileira" e não foi ele e seu trio de asseclas fanáticos que me expulsaram! 

<> Por que ficou tanto tempo quieto vendo os repetidos ataques do Gevaerd contra você? Não teve vontade de revidar ou processá-lo por calúnia e difamação? Ficar calado não o prejudicou?

Sou uma pessoa naturalmente voltada para as soluções pacíficas. Sou sensitivo e meditante. Gosto da paz, apesar de estar sempre envolvido em lutas por causas sociais que me parecem importantes. O Gevaerd, o CPDV e suas revistas foram apenas um capítulo no livro da minha vida e está longe de ser o mais interessante. Entendi os ataques dele como manifestações intempestivas de um homem amargurado, solitário e carente de afeto, que gosta de rebaixar os outros para tentar sobressair-se. Ele não é má pessoa! Só é profundamente infeliz e frustrado! Vê-lo fazer repetidas sandices me causa pena. Tive vontade de revidar e processá-lo, sim, até por orientação de amigos advogados e policiais. Cheguei a exigir um direito de resposta nas revistas dele. Na época aceitou, mas, como sempre, não cumpriu com a palavra. 

Ficar calado causou danos sim, mas, por outro lado, proporcionou um benefício gigantesco! O meu silêncio permitiu que todos que tem bom senso percebessem quem é realmente "pesquisador" da verdade, com boas intenções, e quem é apenas seguidor cego de opiniões alheias. Pelo menos duas pessoas que sempre admitiram seu desprezo pelo Gevaerd, hoje estão vinculadas à revista, mesmo não tendo mudado suas negativas opiniões sobre ele! Gente hipócrita, cínica e interesseira é um veneno para qualquer projeto de vida! Dessas, quero distância! Portanto, acabou sendo uma boa filtragem social que ele me proporcionou.

<> Você é um dos raríssimos pesquisadores que teve acesso a informações ultra-secretas de forças armadas e governos. Você faz palestras para militares! Como conseguiu isso?! O que os militares sabem sobre o fenômeno UFO/OVNI é realmente a mesma coisa que os civis conhecem?

Minha primeira experiência com uma audiência militar foi em 1979, quando ministrei o meu Curso de Introdução à UFOlogia no Clube de Aeronáutica do Rio de Janeiro. Apesar de já ser amigo do general Uchôa, foi naquele evento que tive minhas primeiras conversas informais com generais e brigadeiros desconhecidos! Tinha 20 anos e nunca havia chegado perto de vários militares do alto escalão! Fiquei bem nervoso. Tudo começou lá. 

As pessoas imaginam que o fato de alguem ser general, brigadeiro ou almirante lhe dá o direito de ter livre acesso a todas as informações salvaguardadas pelas forças armadas. Não dá! Muitos oficiais nada sabem sobre o que acontece no universo da UFOlogia militar e nunca saberão! Aliás, muitos deles nem querem saber, pois entendem que o sigilo rigoroso as vezes é necessário e mandatório. Há coisas que nem mesmo o Presidente da República saberá!

Dizer que a UFOlogia militar e a civil tem o mesmo grau de conhecimento da fenomenologia é risível! Quem diz isso nem imagina o quanto está enganado.

<> Acha que algum dia será possível a plena cooperação entre pesquisadores civis e militares, sem nenhum tipo de censura e com livre acesso do público leigo?

Por causa de muitos fatores políticos, técnico-científicos, tecnológicos e psicossociais, complexos e interagentes, não creio que isso possa acontecer. Os raros casos conhecidos de cooperação entre pesquisadores militares e civis não são verdadeiramente irrestritos e sem censura.

<> Perdoe a curiosidade, mas... Preciso perguntar: Nessas sondagens pelos meandros dos órgãos de inteligência, você descobriu alguma coisa realmente importante, reveladora, inédita que nunca havia visto nos livros, palestras e documentários feitos pelos pesquisadores civis?! Alguma coisa que mudou a sua forma de pensar?

Sim. Consegui algumas respostas que achava que jamais obteria. Pude ver coisas que só imaginava existir. Uma das coisas realmente preciosas foi aprender como diferenciar, com 100% de certeza, quem é ou não contatado! É um presente para qualquer pesquisador, especialmente quando também é sensitivo. Esse foi um avanço que os civis não tiveram. Acho que essa e outras pequenas descobertas aprimoraram o meu conhecimento, as minhas convicções e abriram novos horizontes sobre as maravilhas e mistérios que adoro explorar.

<> Outra coisinha mais (risos)... Nessas diferenciações que aprendeu, deu para descobrir se extraterrestres espiritualmente muito avançados, provenientes de mundos distantes, realmente manifestam-se através de canalizadores com a finalidade de nos ajudar?

Bem... O que posso assegurar é que ocorrem interações psicobiofísicas e de biocomunicação com certos tipos de UFO/OVNI. Fenômenos parapsicológicos podem acontecer nos contatos com essas aeroformas e seus eventuais ocupantes. Vivenciei isso já nos tempos do Projeto Contact (1976/77). Mas devo alertar a todos que até o momento (2018) não surgiu em todo o mundo NENHUM caso crível de canalização de extraterrestres espiritualmente avançados que estejam preocupados em ajudar nossa evolução espiritual. Todos os supostos canalizadores de mentores espirituais pleidianos, arcturianos, venusianos etc., infelizmente, teatralizam essas comunicações por razões diversas, que vão da criminosa má fé, visando interesses particulares, à necessidade patológica de projeção num grupo social. E o interessante é que existe uma corrosiva patologia também naqueles que cegamente acreditam e amparam a divulgação dessas fantasias, achando que estão fazendo um bem para a humanidade. Fingir-se canalizador de mentores alienígenas e ascencionados, ainda que com boas intenções, causa danos psicoespirituais profundos. É um modismo muito triste.

<>  Você é o representante nacional da International Magicians Society, a maior associação de mágicos do mundo. Ser mentalista e conhecedor do ilusionismo ajudou alguma coisa nas suas experiências e pesquisas UFOlógicas e parapsicológicas?

Com certeza! As artes mágicas são praticadas há milênios! Ainda é comum serem usadas para encenar "milagres" e impressionar pessoas carentes de fé. Falsos contatados e profetas embusteiros de certas correntes "religiosas" conseguem estorquir muito dinheiro de ignorantes usando efeitos mágicos. Técnicas de ilusionismo, baseadas em princípios de óptica física, também são usadas para simular contatos com alienígenas e gerar convincentes imagens de discos voadores.

<> Falando em dinheiro... Com o seu conhecimento e currículo, poderia ser um homem muito rico! A história está cheia de falsos contatados que ganharam muito dinheiro enganando os outros. Você poderia ter lucrado com o Projeto Contact sem enganar ninguem!  Você ajudou empresas a sair do prejuízo! Por que não tem patrimônio? Por que trabalha tanto de graça e ficou endividado?!

É verdade Sara! Poderia ter ficado bilionário, sim! Sabe... Conheci tanta gente rica e infeliz... Acho que isso não causou boa impressão em mim. Meu maior prazer é aprender e depois compartilhar. Gosto muito de estudar, explorar, vivenciar e dividir o que aprendi. Se fosse o "aproveitador" que o velho Gevaerd insinua, teria usado minha sensitividade e meu mentalismo para realizar "milagres" e ficar mundialmente famoso como "messias", "médium", "canalizador" ou algo assim. Teria sido muito fácil, mas creio que não dormiria em paz. Nunca fui apaixonado por dinheiro! Ter dinheiro é bom e útil, mas acho que não vale devotar tanto tempo para acumulá-lo. Dinheiro tem que circular para o bem da economia e da sociedade. A vida passa rápido e quero aproveitá-la para iluminar a minha essência! Não vou levar nada daqui! Perder tempo de vida para obter patrimônio?! Não vale a pena! Tenho dívidas sim, mas todas foram obtidas por razões justas e vou pagando conforme as possibilidades. 

<> Os pesquisadores civis ainda não chegaram a uma unanimidade sobre a autenticidade das famosas fotografias de discos voadores dos casos Barra da Tijuca (7 de maio de 1952) e Ilha da Trindade (16 de janeiro de 1958), ocorridos no Brasil. As fotos aparecem em centenas de livros e revistas internacionais como "entre as melhores do mundo". Você chegou a uma conclusão?

Desconheço qualquer pesquisador sério, civil ou militar, que considere as fotografias como autênticas. Essas fraudes já estavam bem documentadas no início da década de 60. Tenho certeza que são falsos flagrantes.

<> E quanto a teoria dos "deuses astronautas"? Você prefaciou um dos livros do polêmico Erich von Däniken (1935- ) e foi membro da Ancient Astronaut Society, da qual ele fazia parte. Você acha que existiram na Terra civilizações muito avançadas no passado? Tivemos visitantes extraterrestres na antiguidade?

Não concordo com tudo que o Erich escreveu, mas tenho certeza que a teoria merece atenção científica. Minha resposta é positiva para as duas questões.

<> Você lê as revistas editadas pelo Gevaerd? Apesar dos atritos entre vocês, acha que ele faz um bom trabalho?

Faz muito tempo que não folheio as revistas dele. São bonitas e bem feitas. É inegável que Gevaerd faz um ótimo trabalho como "editor de assuntos UFOlógicos", o que permite que misture temas diversificados e de qualidade questionável sem comprometer-se diretamente com a credibilidade do conteúdo e dos seus autores. Comercialmente funciona. Recebo muito material interessante, impresso e eletrônico, e não tenho tempo, nem interesse, em dedicar atenção a esse tipo de periódico que pouco adiciona aos meus estudos de Maravilhas e Mistérios. Felizmente tenho melhores opções.

<> Em junho de 2015, durante o IIII Fórum Mundial de UFOlogia, o Gevaerd, que sempre disse nunca ter visto nenhum fenômeno aéreo incomum, revelou-se como "abduzido". Você acha que isso é real ou é apenas mais uma manobra autopromocional?

Não pesquisei nada a respeito, de modo que não posso emitir um parecer, mas, francamente, pelo tanto que o conheço, acho difícil que seja verdade. 

<> Você estudou hipnologia e sugestologia, certo? Acha que a hipnose é um caminho confiável para descobrir casos reais de contato e abdução? 

Certo. A hipnose abarca técnicas interessantes de acesso ao inconsciente e pode reavivar experiências esquecidas, mas poucos conhecem e dominam esse precioso recurso. No campo da UFOlogia, em particular, ainda não conheci nenhum hipnotizador que fosse realmente capaz de conduzir os pacientes a um estado hipnótico e assim evocar lembranças sustentáveis de contato e abdução. Os casos mais populares que chegaram ao meu conhecimento são de pacientes que mentiram, fingiram e teatralizaram contatos que não aconteceram. Como exemplo, certa vez entrevistei um inteligentíssimo estudante de psicologia que admitiu ter enganado um famoso UFOfilista e hipnotizador. Inventou tudo nas sessões, deixando os "pesquisadores" impressionados com os detalhes do falso caso. Esse tipo de "brincadeira" não é raro.

<> Pretende abrir para o grande público os seus cursos de UFOfilia e UFOlogia? Os currículos são excelentes e podem lhe dar um bom rendimento, não acha?

Não creio nisso. Meus cursos, com certeza, são os mais completos dentre os que conheci, mas são para grupos pequenos, formados por pessoas que realmente querem conhecer a realidade da fenomenologia, como ela é, e não como mistificadores desejam que seja. Não faço cursos para gente deslumbrada que quer encontrar na UFOlogia e nos alienígenas uma forma mística de redenção espiritual.

<> Anos atrás, o suposto contatado paulista Urandir Fernandes de Oliveira (1963- ), criador do Projeto Portal e conhecido inimigo do Gevaerd, declarou numa entrevista à Rede Bandeirantes que você é o único UFOlogista da confiança dele. Qual é a sua relação com o Urandir? O que pensa sobre o "et Bilú" e a teoria da "Terra convexa" que ele propaga?

Ah...! Foi mesmo! Foi o saudoso amigo Carlos Franco, irmão do cantor e comediante Moacyr Franco (1936- ), meu "padrinho" na televisão, que veio chamar minha atenção para a declaração do Urandir. Na época da entrevista fiquei surpreso pois não tinha tido nenhum contato com o Urandir! Não sei o que o levou a dizer isso. Não tenho qualquer relação com ele nem com o Projeto Portal. O sujeito que finge ser o "et Bilú", usando um capacete na cabeça com luzes no lugar dos olhos, é conhecido. Tenho certeza absoluta que o Urandir nunca teve contato com alienígenas e jamais foi um "agente psi" (paranormal). A "Terra convexa" divulgada por Urandir é uma elaboração frágil e totalmente insensata, sem nenhuma base crível, que nem pode ser chamada de "teoria". Não é uma teoria! É uma bobagem infantil, assim como as ridículas idéias da "Terra plana" e da "Terra oca", que também não são teorias. 

<> Você pretende voltar aos circuitos de eventos públicos de UFOfilia e UFOlogia?

Não! De maneira nenhuma! Os eventos atuais misturam tantas coisas e mistificam tanto, que a gente perde a motivação de participar até como mero ouvinte! Tenho muito prazer em fazer os meus pequenos eventos, porque posso dirigir a produção e formatar o conteúdo, mas não quero mais ser palestrante nesses congressos que tenho visto nos últimos anos. Pura perda de tempo. As vezes faço breves palestras online.

<> E sua pesquisa biográfica sobre o polêmico médium brasileiro Carmine Mirabelli (1886-1951), continua? A imprensa mundial o retrata como "o maior médium de todos os tempos"! Dizem que conseguia produzir fenômenos realmente inacreditáveis à plena luz do dia, inclusive levitações! Outros acham que tudo que escreveram sobre ele é mentira ou exageros sensacionalistas. Chegou a alguma conclusão?!

Pesquisar e estudar a vida e os alegados feitos de Carmine Mirabelli é uma aventura apaixonante! Comecei em 1978 e continuo avançando nesse trabalho. Tenho um arquivo volumoso sobre aquele impressionante "agente Psi", isto é, "paranormal". Numa certa altura das pesquisas, descobri que ele já havia utilizado o termo científico-espiritualismo na década de 30, com uma proposta semelhante à que lancei nos anos 70. Apesar de não tê-lo conhecido, nossas vidas tem muitos aspectos parecidos. Mirabelli possuía de fato uma dinâmica psicobioenergética ímpar, jamais apresentada por qualquer outra pessoa. É certo que ele conhecia e utilizava esporadicamente efeitos de ilusionismo mas, se tudo o que foi dito e documentado por gente muito respeitável for a fiel expressão da verdade (e parece que é!), sua estarrecedora versatilidade fenomenológica não poderia ser reproduzida por artes mágicas nem com as avançadas tecnologias modernas! 

<> Sua vida investigativa começou precocemente na infância com o objetivo de "conhecer Deus", certo? Você estudou muitas religiões, seitas, movimentos esotéricos, escolas iniciáticas, filosofias, ciências, paraciências... Agora, com 59 anos, conseguiu conhecer Deus?

Os resultados atualizados dessa busca apaixonante apresento nas minhas palestras "A experiência Deus" e "O Deus dos ateus". Minha concepção do que poderia ser um "deus" é bem diferente de tudo que li e ouvi nas distintas escolas de pensamento. Como científico-espiritualista não defendo verdades acabadas e estou sempre aberto para aprender, inovar e evoluir. Percebo, no entanto, que a ciência está mais perto de divisar um "deus" plausível do que as religiões. O "deus" proposto pela maioria das religiões é uma aberração de incongruências e não é possível levá-lo a sério. As religiões causaram profundos males psicoespirituais para a humanidade com seus dogmas e teologias infundadas. Não é a toa que o ateísmo, o agnosticismo e o movimento dos "nones" (que não quer saber de religiões) crescem em todo o mundo! 

Sinto que a nossa fisiologia psicobioenergética interage com um cósmico "campo" pluridimensional que nos leva a intuir uma grandeza divina por trás de tudo. É por aí que desdobra-se a minha "experiência Deus". 

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